domingo, 11 de julho de 2010

Serra de Sta. Bárbara

Na véspera deste domingo fui convidado pelo Pardal para ir conhecer a Serra de Santa Bárbara, ou pelo menos um pouco dela, juntamente com outros colegas (a Isabel Rosário, a Diana Northup e o Airidas). Prontamente aceitei o convite, já que, como ainda não assentei bem por aqui, ainda não tenho rotinas e preparava-me para ter um domingo sem qualquer ponto de interesse. Além disso, o tempo tem estado maravilhoso e certamente que apanharíamos melhor tempo que o imenso nevoeiro que apanhei quando fui até lá juntamente com o Pedro, Clara e Carla.
Lá fomos pelas 9 da manhã em direcção ao ponto mais alto da Terceira. Chegados lá, abandonámos o asfalto e enveredámos pela turfeira inicial que existe no 1º patamar de abatimento da caldeira. Com o devido cuidado para não metermos a pata na água/lama que muitas vezes se confunde com Sphagnum, lá progredimos até chegarmos à caldeira. Depois de apreciarmos belas vistas sobre a borda da caldeira, decidiu-se que desceríamos por um caminho mais ao lado até lá abaixo. Na descida, começámos a encontrar uma planta endémica muito curiosa, a Angelica lygnescens, uma planta anual que cresce bastante e adiciona à paisagem um toque... diferente.
O ponto mais distante da nossa caminhada seria a borda da Lagoa Funda no fundo da caldeira. Aqui observavam-se várias espécies de libélulas voando e interagindo umas com as outras e o feto endémico Isoetes azorica. Umas rãs coaxavam por ali. Chegados à borda da lagoa, foi só encontrar um belo sítio para abancar e comer a buxa. Como ninguém me avisou que o passeio ía ocupar a hora de almoço, lá tive que cleptoparasitar a malta. Uma excelente pausa num também excelente lugar.
Seguindo para cima, encontrei ainda algumas aranhas por aquelas bandas, nenhuma delas nada que não fosse já conhecido da Terceira, mas ainda assim ainda tive a sorte de encontrar e mostrar alguns exemplares da Pisaura acoreensis, a maior aranha endémica dos Açores, que capturou a atenção dos presentes durante uns instantes. Aqui, uma fêmea com o saco de ovos. Além desta exuberante menina e outras como ela, que por ali apareceram, encontrei também Xysticus cor, Sancus acoreensis e mais uma ou duas espécies que não são novidade.De volta ao carro, altura para verificar que estava uma cache mesmo ali a uns 300 metros. Lá fomos em busca de mais um tesouro no tecto da Terceira, iniciando o Airidas no geocaching. O Pardal encontrou-a rapidamente e pudemos regressar, com o sentimento de missão cumprida. :)
No regresso, pausa ainda no posto d'Os Montanheiros na Gruta do Natal para um gelado e também na única lagoa onde existe um feto endémico que é um trevo-de-quatro-folhas, a Marsilea azorica (ver foto aqui). Infelizmente, a lagoa tem algum lixo e está mesmo junto a uma pastagem pelo que a espécie está seriamente ameaçada. :(
Depois disto, fomos todos entregues cada um a sua casa, para o respectivo banho e descanso. Um belo passeio por uma das - senão A - zonas mais bonitas da Terceira e de todos os Açores, e espero voltar a fazer destas passeatas em breve novamente.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Flores

Tal como já tinha relatado para S. Miguel, lá tive que ir de barco novamente, desta feita para as Flores, numa viagem de 12 horas... :( E como se isso não bastasse, a partida foi às 7 da matina, e portanto era para estar no porto às 6:30, e portanto chegar à Praia da Vitória e tal... Acordar pelas 5:15 da madruga para preparar tudo. Como me deitei cedo já a contar com isto, o levantar nem foi o pior, e de manhã, já no barco, deu para recuperar algum do sono perdido. O problema foi quando acabei essa pequena sesta matinal. Como não tinha o computador comigo nem literatura, foi uma grande seca. Para evitar que me desse a sonolência no interior abafado do barco, e ficasse com o sono trocado, decidi ir lá para fora ver o ambiente. Lá fora, o vento soprava de Noroeste sensivelmente e a fresca marítima sabia bem ao corpo e à mente. O tempo estava nublado, mas com abertas. O mar, esse, estava calmo, mas ligeiramente mais agitado do que o que apanhámos quando fomos para S. Miguel. Algumas ondas mais potentes rebentavam com estrondo no casco do navio, e quando havia abertas, singelos arco-íris faziam uma curta aparição. Ainda esperei avistar cetáceos em tão longa espera, mas a sorte não quis nada comigo. Esporádicas caravelas fizeram-me companhia por breves instantes mas deixaram de ser uma novidade desde há alguns dias atrás. A surpresa aconteceu quando, subitamente, eis que um peixe-voador efectua o seu típico salto, afastando-se do navio com as suas barbatanas peitorais e pélvicas bem abertas numa planagem perfeita, que é finalizada num mergulho que rapidamente oculta o curioso animal. Fiquei bastante agradado com este fugaz avistamento. De uma forma muito geek, pensei: "Vi um Mulldrifter!" (private joke para os meus amigos do Magic) 12 horas depois, eis que chego ao concelho mais ocidental da Europa! O carro de aluguer estava ali à nossa espera e foi só carregar as malas e seguir para o hotel. Este hotel onde ficámos alojados (eu e a Carla, que me acompanhou na longa viagem) está localizado à beira-mar e já não me lembro da última vez que adormeci com o som do mar. Muito relaxante. Ao final do dia, nota para os sons da natureza: as cagarras (uma ave marítima, para quem não sabe) que regressam do dia no mar à pesca, vocalizam de uma forma bastante característica (ouçam vocês mesmo aqui). No final deste 1º dia, o cansaço era grande por isso toca a dormir! O domingo foi para fazer um pouco de turismo e geocaching. De manhã tentei encontrar o acesso para o Monte das Cruzes, um pequeno morro que olha sobre Santa Cruz das Flores. Chegado ao miradouro, foi procurar a cache até fartar, pois esta teimou em não aparecer. Decidi voltar ao hotel pois a hora de almoço aproximava-se e a cache mais próxima encontrava-se a 9 km de distância. Almocei um goraz grelhado num restaurante local que estava bastante bom. À tarde, decidimos ir conhecer um pouco da ilha. À medida que começamos a subir, o nevoeiro adensa de tal forma que a visibilidade na estrada não devia ir muito além dos 10 metros! Estaríamos a percorrer o centro da ilha e a passar por algumas lagoas, mas destas nem sinal, era só nevoeiro. O ponto mais interessante desta viagem terá sido mesmo o encontrar de uma cache perto da Lagoa Funda. Seguimos depois para a costa Oeste da ilha, em direcção à Fajã Grande. Aí, chegámos até uma zona com piscinas naturais e com rochedos vulcânicos bem negros: uma pequena pausa para virar calhaus. Dei com um macho de Dysdera, mas talvez seja crocata, uma espécie cosmopolita já citada para os Açores. Pouco depois, voltámos para trás e demos com a procissão das festas de S. Pedro, na Fajã Grande. Esperámos um pouco e lá fomos. Voltámos para trás pelo mesmo caminho e ficámos pelo hotel. Sentia-me cansado no final do dia, mesmo sem ter feito nada de jeito, talvez devido à redobrada concentração durante a condução no nevoeiro e devido às variações de altitude.

No dia II, segunda-feira, chegavam o Paulo Borges e o Pardal, para iniciarmos o trabalho de campo. Como tal, lá fomos procurar o local onde instalaríamos o nosso laboratório de campo e prepararíamos as armadilhas. Depois de almoço, e porque os outros só chegariam pelas 16:30, e também porque estava bom tempo, decidimos ir pela costa Este das Flores ver as vistas. Rapidamente se avista o Corvo ao fundo.
Continuando, chegámos a uma placa que dizia "Lagoas" e como o tempo lá para cima estava do melhor, lá fomos. Bem dizia o Paulo Borges que as Flores eram o reino do Sphagnum: nesta zona alta, o solo está coberto de musgos, chegando a transformar os barrancos que ladeiam as estradas em almofadas gigantes de tons esverdeados, amarelos ou alaranjados. Depois de pararmos um pouco para observar uma cascata que vertia ao longe, seguimos a boa velocidade para Santa Cruz, já que a hora de ir buscar o resto da comitiva estava perto. No entanto, ainda tivemos tempo para uma paragem perto da Caldeira Branca para uma foto rápida.
Como o tempo estava bom o essencial era aviar já uns batimentos. O 1º transecto foi uma encosta junto à Caldeira Funda. O transecto ficou quase pronto, ficando só a faltar as 15 pitfall de propileno. No caminho do restaurante onde iríamos jantar, passámos pelo local mais emblemático das Flores, o Poço da Alagoínha, uma lagoa onde desaguam várias cascatas que correm paralelas do planalto em cima. Sem palavras...
Fomos jantar a um restaurante na Fajãzinha, na costa Oeste da ilha e reparei que existia um prato de algas na ementa. Decidi experimentar a "Torta de Erva-do-mar", ainda que com algum receio. No final, estava globalmente satisfeito pois provei uma refeição diferente composta por algas, batata-doce, e um bocado de inhame que roubei do prato do Pardal. O sabor das algas não é divinal, mas comem-se bem e sempre dá para sair da rotina de carne/peixe. Next stop: hotel, duche e descanso!
O 2º dia de trabalho de campo não teve muito para contar: de manhã, triagens dos batimentos do dia anterior, almoço, e depois mais um transecto completo, na zona do Pico da Sé, junto à Ribeira do Cascalho. Ainda tínhamos tempo e fomos acabar o transecto do dia anterior, pelo que foi um dia muito produtivo. Ao final da tarde, altura para ver Portugal a ser eliminado do mundial pela Espanha: que equipa tão fraquinha, seria injusto se passássemos nós...
No 3º dia da expedição Flores fomos "brindados" com fortes ventos matinais, que trouxeram o nevoeiro às terras altas. Como as árvores estavam molhadas, só deu mesmo para ir cavar pitfall a uma mancha de Juniperus brevifolia que constitui um dos transectos aqui nas Flores.
À noite, depois do jantar, regressámos à nossa Liga de dominó, que estava empatada a 1 jogo para cada lado, depois dos primeiros 2 embates em S. Miguel. Neste 3º jogo, eu e o Pardal não demos hipótese e adiantámo-nos no marcador. À excepção do trabalho de campo e da "dominó-zada", este dia foi bastante banal.

O 4º dia apresentou-se cinzento desde cedo. Em Santa Cruz ainda estava decente, mas à medida que subimos o nevoeiro adensa-se e cai alguma chuva: não há condições de trabalho. Entretanto, a meio da manhã fomos deixar o Paulo Borges ao aeroporto, já que o vôo dele de 6ª feira foi cancelado devido à greve da SATA. Depois de assistirmos o chefe na sua fuga do trabalho de campo, fomos até à zona central da ilha, e comprovámos que não dava para fazer nada; decidimor aproveitar o tempo para ir procurar as duas caches que se encontram na zona da Fajã Grande. Começámos pela Escada do Céu (eu e o Pardal). Da estrada até ao ponto da cache eram apenas 300 e tal metros, mas eu já desconfiava que não ía ser tão fácil assim. Para chegar lá acima era preciso subir por um íngreme zigue-zague com piso escorregadio, perfeito para tralhar e partir ossos, pelo que a progressão tinha que ser feita com redobrado cuidado. Cheguei lá acima a pingar suor, e ainda com nevoeiro a ocultar a belíssima vista sobre a Fajã Grande. Então fomos procurar a dita cache e foi uma busca morosa, a malandra teimava em não aparecer, grrr... Entretanto, o nevoeiro começou a levantar e ainda houve momento kodak.
Voltámos à busca. Foi já no limiar da nossa paciência que dei com a dita! Yey! E depois deste find que, dada a dificuldade, me deu um bom gozo, encontrava agora no container a cereja no topo do bolo: uma aranha de borracha! É a 3ª da minha colecção de aracno-goodies. Depois da descida, chegámos ao carro já pelas 14:00 e fomos procurar almoço na Fajã Grande. Infelizmente, os tipos do restaurante já tinham a porta fechada às 14:08, pelo que tivemos que improvisar com umas bifan
as. De seguida, fomos tentar a cache da Vigia da Baleia, ali bem perto. Foi uma caminhada simpática, quando comparada com a anterior, e a cache foi rapidamente encontrada. Enquanto estávamos na vigia, recebemos a visita de um casal de lisboetas que percorriam o trilho Fajãzinha/Fajã Grande, e mais tarde, da Carla, que andava por ali a montar armadilhas para apanhar as suas Drosophila. Depois de uma ou duas fotos tiradas, começámos a rota de regresso quando eram cerca de 16:00. Parámos um pouco à frente, no Poço da Alagoinha, um dos pontos de atracção turística mais populares das Flores, que é a lagoa onde caem várias cascatas em simultâneo. Só foi pena o nevoeiro, que não deixava ver o topo das cascatas, mas ainda houve momento kodak (thanks again, Pardal). Depois, só uma paragem, no Miradouro Craveiro Lopes, com vista sobre a Fajãzinha e o próprio Poço da Alagoinha, e bora para o hotel. Este foi um dia praticamente em cheio para fazer turismo, só pecando pela nebulosidade em demasia nas terras altas. Ao fim do dia, tempo para descansar ao som do mar e das cagarras.

Dia 5: Fomos presenteados com um belo dia e portanto fomos acabar o trabalho de campo. Primeiro, no Morro Alto, e depois no juniperal perto da Caldeira Funda. Aí pelas 19:30 quando nos sentámos para jantar, descobrimos que o nosso vôo também foi alterado pela SATA devido à greve dos tripulantes de cabine: que bela caca! Agora é ficar aqui retido até terça-feira, e eu com coisas para tratar na Terceira.
2 curiosos termos do vocabulário das Flores:
Espertalhotes = coelhos
Enforcadeira = gravata
Diga-se que os coelhos aqui nas Flores são o vertebrado que mais se vê, juntamente com os melros. São às dezenas e a toda a hora do dia: uma autêntica praga!
Ah! Neste dia passámos também noutro marco das Flores: a Rocha dos Bordões, um maciço com colunas prismáticas, tal como O Piano, em Porto Santo.

Ese sábado começou como têm começado os dias desta semana: com triagens dos batimentos da véspera. Depois do almoço, e porque agora temos tempo de sobra para acabar as triagens, fomos conhecer a Fajã Lopo Vaz, uma fajã na costa Sul das Flores, que além de ser um sítio interessante por si mesmo, ainda tinha o bónus de ter uma cache lá escondida, a qual era neste momento a última das 5 que ainda não tinha sido procurada. A caminhada para baixo é bastante fácil e bonita, pois o trilho foi recentemente arranjado e, portanto, caminhamos sempre com vista panorâmica sobre o oceano e a fajã. Ao chegar lá abaixo, percorremos um pequeno trilho que percorre a fajã, passando pelas 4 ou 5 casinhas que lá existem, a maior parte delas só ocupadas temporariamente pelos donos em altura de férias. Esta fajã era mais típica do que a que encontrámos em S. Miguel, pois havia menos casas (ou nenhuma) à Jet7. Cada uma estava normalmente rodeada por canteiros com bananeiras, inhame ou até abacaxi, além de outros vegetais mais normais. E até ali se viram vacas, pastando num pequeno serrado. Findado o trilho, cheguei até ao mar. Aqui vivi um momento muito à Sir David Attenborough, já que fui atacado por um garajau. Provavelmente terei passado perto demais do seu ninho e o bicho fez vários vôos picados contra mim, vocalizando de forma característica. Para os mais imaginativos de vocês: não, não levei bicadas! :p Comecei a caminhar no sentido inverso à colónia de garajaus mais abaixo, mentalizando-me que o 1º banho do ano seria numa praia de areia vulcânica açoriana, em roupa interior. Fiquei só na zona de rebentação, já que não conhecia o mar, mas a temperatura era bastante boa, mais quente do que as praias da zona centro do continente que conheço. A seguir ao banho, foi só esperar até reunir as tropas e iniciar a subida. Debaixo do sol das 17 da tarde, lá fomos, cada um a seu ritmo. Liderei o pelotão (já que o Pardal controlava o progresso da Carla) para queimar mais algumas calorias. Cheguei ao topo a pingar suor, mas valeu a pena! Ah, é verdade, já me esquecia: quando chegámos lá abaixo, o Pardal encontrou a cache. 4 em 5. Findada a festividade principal do dia, ainda fomos visitar um miradouro sobre as Lajes e voltámos a passar pela Rocha dos Bordões. O resto tem pouco para contar: jantar, descanso, xixi e cama. Na foto, eu a caminho da Fajã Lopo Vaz.
No domingo em que supostamente iríamos embora, lá fomos acabar as triagens e arrumar a trouxa para terça-feira. De seguida, fomos pela costa Este conhecer alguns pontos de interesse, sempre guiados pelo Pardal. Estivemos nas povoações de Ponta Ruiva e de Ponta Delgada, para depois nos dirigirmos ao Morro Alto, o ponto mais alto das Flores. Depois de jantar começou a luta contra o tédio, já que não tínhamos mais nada para fazer e já conhecíamos praticamente toda a ilha, tendo já procurado por todas as caches da mesma. Hoje provei filetes de mero com molho de amêndoa, estava bom! Reminder: arranjar leitor de mp3 para ter música quando não tenho o computador comigo.

O último dia pelas Flores foi, portanto, um dia para tentar ir aos poucos recantos onde ainda não tínhamos estado. De manhã, visitámos o Parque de Lazer da Alagoa, na costa Norte da ilha. Aí, para variar, ainda recolhi uma ou duas aranhas com interesse, embora ache que são espécies já conhecidas. Almoçámos na Fajã Grande e visitámos o Poço do Bacalhau, uma pequena lagoa para onde cai uma das imponentes cascatas que existem nesta zona da ilha. Dizem que tem esse nome porque ao final da tarde a água faz um efeito que se assemelha à cauda de um bacalhau.
De seguida, o Pardal foi procurar uns Tarphius à zona da vigia da baleia, que já tínhamos visitado antes, e eu fui ver as vistas durante um bocadito. Findada esta actividade, rumámos em direcção à zona das Lajes. A certo ponto, parámos junto a um serrado no qual estavam alguns bovinos, pastando pachorrentamente. Depois de eu e a Carla tentarmos interagir com eles, oferecendo-lhes erva, o Pardal mostrou-nos que elas gostam é de Holcus lanatus, e depois de agarramos um pouco desta gramínea, a vaquinha lá veio ter connosco, embora com alguma relutância. O boi não quis interagir, mas ainda conseguimos umas festinhas na vaquinha. Não aconteceu muito mais além disto e fomos para o hotel. Ao jantar, mais um belo peixinho: goraz no forno.

Tendo em conta que no dia da partida não aconteceu nada de relevante, posso então concluir a minha única expedição às Flores com algumas notas:
A nível paisagístico, fiquei agradavelmente surpreendido com o recanto mais ocidental da Europa. Muita lagoa, cascata e locais que vale a pena parar para apreciar a obra da Mãe Natureza. Para vir descansar é muito bom, pois não se passa nada. Come-se bastante bem, apesar de também não ter razões de queixa dos outros locais que já visitei aqui nos Açores. E por último, tinha algumas caches porreiras. Tirando a greve da SATA, a estadia nas Flores foi 5 estrelas.
Neste momento, escrevo estes relatos e pensamentos no aeroporto do Faial, porque o vôo de volta à Terceira não era directo e, apesar de já ter dado umas voltas pela Horta, não vou alongar-me mais. Assim que chegar à Terceira, tenho que se ver vou tratar da mudança de casa.
Ah! Uma coisa chata das Flores foi que perdi o meu chapéu de aracnólogo. :( O Pardal deu-me um chapéu do Algar do Carvão, mas não é a mesma coisa... A ver se arranjo um substituto, um dia destes...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

São Miguel (II)

E lá fui eu novamente até São Miguel, juntamente com o Pardal, para ir buscar as armadilhas montadas há 15 dias atrás.
Desta vez, e porque não havia propileno para transportar, fui de avião. À chegado ao aeroporto, carro de aluguer pronto e lá fomos, calmamente rumo ao Nordeste. Pelo caminho, fizémos umas paragens estratégicas para procurar umas caches e, sobretudo, para conhecer alguns locais, até porque tendo a companhia do Pardal, aprende-se sempre qualquer coisa sobre aquele recanto, seja por um facto histórico curioso, uma tradição gastronómica interessante ou uma vista que merece ser apreciada.
A primeira paragem foi em Vila Franca do Campo, a ainda capital original de São Miguel (que, de
vido a catástrofes naturais, foi parcialmente destruída e portanto a capital da ilha passou provisoriamente para Ponta Delgada, que ainda hoje mantém esse título provisório que nunca chegou a ser alterado, segundo o Pardal), onde parámos numa estátua ao cão de fila de S. Miguel, uma raça típica da região, que fora criada numa miscelânea de cruzamentos de outras raças, para guardar o gado bovino. A respectiva cache foi encontrada com sucesso e pudemos seguir em frente até às Furnas.
Chegados às Furnas, e com tempo de sobra, fomos até ao local onde se fazem os conhecidos cozidos nas caldeiras (ou fumarolas?). Para ficarmos com o registo completo, decidimos parar num restaurante local e almoçar um destes cozidos. Devo confessar que não achei grande diferença, estava bom é claro, mas não lhe notei nada de muito diferente. Mais novidade achei o sabor do inhame, uma bolbosa usada aqui nos Açores, que substitui a batata em muitos pratos. Parece o dito tubérculo, mas a sua consistência é diferente, é menos seco porventura… É ok. A carne de vaca estava muito gostosa e só com o bandulho cheio nos fizemos à estrada, não sem an
tes comprar mais um stock de rebuçados tradicionais de São Miguel para a viagem.

Depois das Furnas, o destino seria Povoação, pequena localidade na costa Sul da ilha. Aí, altura para nos deslocarmos até ao centro da Povoação para logar uma cache das fáceis, que está por lá. Rapidamente concluímos esta missão.

Novamente de volta à estrada, com o destino de Nordeste. Neste troço, paragem no Miradouro da Ponta da Madrugada. Apreciadas as vistas, lá fomos até ao simpático Nordeste. Como havia tempo até ao jantar, decidimos ir adiantar trabalho e ir recolher as armadilhas de um dos transectos da Tronqueira, já que ficava relativamente perto (ver mapa do post “S. Miguel (I)”. Apanhámos um final de tarde espectacular na Serra da Tronqueira, com muitos priolos por perto a virem dizer “olá”, respondendo alegremente aos nossos assobios. Concluímos o transecto em tempo recorde, e pelas 20:45 já deveríamos estar a jantar n’O Tronqueira, o nosso habitual comedouro nocturno.

O 2º dia em São Miguel consistiu em “limpar” os transectos que faltavam, de manhã o 2º da Tronqueira, e depois à tarde os 2 do Planalto dos Graminhais. Pelo meio, almoçámos n’O Forno e uma pausa na localidade de Algarvia para achar uma cache, a qual não foi encontrada, depois de uma busca não muito demorada, junto de uma vigia da baleia. Já nos Graminhais, a progressão faz-se lenta e cuidadosamente. A turfeira em terreno acidentado assim o impõe, especialmente quando se leva uma mala térmica com tralha variada lá dentro, juntamente com uma mochila. Os abundantes musgos que cobrem o solo neste lugar muitas vezes ocultam fendas ou declives que podem ser perigosos, mas tudo correu às mil maravilhas.

Aqui eu no Planalto dos Graminhais, junto a um Juniperus brevifolia (cedro-do-mato, zimbro), uma árvore endémica dos Açores.

Durante a noite fizemos um forcing para ter as amostras prontas e podermos ir para a Terceira mais cedo. Neste momento, eis que acontece o momento dramático da expedição: um miúdo que estava no quarto ao lado – não sei como – parte uma janela de correr (de vidro) e caem-lhe estilhaços na perna, ferindo-o. Foi um belo corte, mas nada de grave. Ainda assim, houve um sururu no hotel durante a próxima hora, e afinal ainda nos faltavam algumas amostras para acabar e teríamos que labutar um pouco mais na manhã seguinte.

Com o último dia no Nordeste quase todo livre, fomos procurar o Centro Ambiental do Priolo, que o Pardal ainda não conhecia. Foi uma aventura, na medida em que só à 3ª tentativa, e depois de muitos telefonemas, que demos com o sítio. Já metiam umas placas! Depois disto fomos conhecer uma zona balnear e uma fajã, a Fajã do Araújo. As fajãs açoreanas são pequeninos planaltos em falésias escarpadas, criados por derrocadas, onde ainda resistem algumas casas tradicionais (ou não), no sentido em que muito dos seus materiais são oferecidos pelo que a Natureza dá. Infelizmente, a Fajã do Araújo contém já algumas casas mais para o Jet7, equipadas com muitos confortos da vida ocidental moderna, perdendo o seu antigo semblante tradicional e rústico. Ainda assim, foi uma bela passeata pela costa Sul de S. Miguel. Sem grandes objectivos em mente (neste dia o Pico da Vara estava encoberto) e com pouco tempo até o jantar, visitámos apenas 1 ou 2 miradouros antes de regressar pela última vez ao Nordeste.

No dia de regresso, ainda deu para andar por Ponta Delgada para “logar” mais umas caches (1 em 2 tentadas). Avião à hora de almoço e lá fomos nós de volta à Terceira.

(todas as fotos exibidas neste post foram na verdade tiradas na 1ª expedição, pelo Pardal)

sábado, 19 de junho de 2010

Geocaching @ Terceira

Neste sábado aproveitei o facto de o Pedro e a Clara terem carro para ir com eles conhecer um pouco da Terceira, aproveitando para efectuar as primeiras caches na ilha onde terei a base de operações durante 1 ano. A Carla Rego também se juntou à festa.
O dia começou cedo, pelas 9 horas, debaixo do nevoeiro matinal típico desta região de Portugal. Decidimos começar pelo Pico Alto. A caminhada começa numa zona florestal de Cryptomeria, para não variar (e muitas "conteiras" para chatear), mas rapidamente começamos a subir e por cada passo em direcção ao pico começamos a ver mais floresta laurissilva a aparecer. A névoa estava cada vez mais intensa à medida que chegamos ao topo pelo que vistas, foi mentira. Aproveitámos para tentar loggar a cache, que foi rapidamente encontrada. Depois da descida, altura para pausa para almoçar na zona florestal. Ah, uma coisa curiosa: junto a um início de trilho que se encontrava perto estava uma placa dos florestais que avisava as pessoas que o animal mais comum na zona é o Butio! Vimos muitos, juntamente com unicórnios e linces-ibéricos!
Anyway, de volta à ração de combate, nada como um pão com chouriço, uma peça de fruta e um chocolate, para estar pronto para mais uma subida. Desta feita, o alvo seria o Pico Gaspar, uma pequena caldeira no centro da ilha, que nos proporciona uma curtinha mas íngreme subida. Novamente, achámos a cache e ficámos um pouco a apreciar a caldeira, que se apresenta com bocadinhos de turfeira nalguns pontos e algumas Euphorbia stygiana (uma espécie endémica rara) nas zonas mais íngremes. Um ponto a revisitar mais tarde, quando houver mais capacidade fotográfica.
Depois do Pico Gaspar, ainda tentámos chegar ao ponto mais alto da Terceira, na Serra de Santa Bárbara, e até conseguimos, mas estava uma névoa tal que não se vía nada 5 metros à frente pelo que voltámos para trás. Para encher o tempo, fomos à Serreta visitar um miradouro e percorrer um pouco de um percurso pedestre que se encontrava perto, em direcção ao mar. Infelizmente, muito do percurso estava infestado de incenso.
No final da tarde, tínhamos ali um dia bem passado e agora era descansar para ir novamente até São Miguel amanhã.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Terceira (I)

Nesta semana começou o trabalho de campo do BALA II aqui na Terceira.

Terça-feira foi o dia da abertura das hostilidades, já que na segunda esteve de chuva o dia todo e na terça o São Pedro lá nos deu umas tréguas. Como os pitfall da Terceira só serão montados no início da próxima semana, para que o seu levantamento não coincida com a expedição ás Flores, só teremos que efectuar os batimentos. Fomos então para um local no centro da Terceira conhecido como o Pico do Galhardo, uma pequena mancha de floresta laurissilva a Norte da Reserva Geológica do Algar do Carvão, a uma altitude de 600 e tal metros. Novamente, foi uma experiência interessante do ponto de vista físico, já que é necessária considerável agilidade para nos deslocarmos pela densa vegetação na floresta laurissilva açoriana. Nota de realce para mais um indivíduo da orquídea endémica Plantathera micrantha, que encontrei crescendo sobre um tronco. Efectuadas as amostras de 30 batimentos, regressámos à Universidade, e durante a tarde triou-se este material e ficámos prontos para o dia II.

Nota de realce para o aparecimento do boss Cardoso aqui nos Açores durante uns dias.

No dia II voltámos para o mesmo local, mas para um transecto um pouco mais a Norte. A paisagem foi semelhante e pouco tenho a acrescentar. Parece que para a semana que vem a equipa irá para a Serra de Sta. Bárbara, o local mais radical da Terceira (e com boas caches para fazer) mas eu estarei em São Miguel a recolher pitfalls pelo que só conhecerei a dita Serra quando for altura de ir recolher pitfalls lá. Infelizmente, não se pode estar em 2 sítios ao mesmo tempo. :/

domingo, 13 de junho de 2010

São Miguel (I)

A primeira expedição do BALA II (abreviatura que usarei para designar o projecto no qual estou envolvido como bolseiro daqui em diante) levou-me à ilha de São Miguel, como já tinha dito num post anterior.

Como a SATA se recusou a transportar propileno para as nossas armadilhas para estudos de genética, tivemos (eu e a Carla Rego) que ir com o propileno com alguns dias de antecedência, de barco. A viagem durou 5:30 a bordo do Express Santorini. Foi a primeira vez que experimentei embarcar num barco de grandes dimensões, foi uma experiência nova assistir à desatracagem e afins. Felizmente, como era grande e o mar estava calmo, não houve muito balanço e portanto, enjôo. Aproveitei a primeira parte da viagem para saborear o vento cá fora (e não, não estou a retratar uma cena como “I’m the king of the world!”) tendo até observado um animal curioso que nunca tinha visto antes. Ora, estava eu a olhar para as águas atlânticas e eis que me deparo com um “saco de plástico” cor-de-rosa, nada de mais. Passados poucos minutos, novo “saco de plástico” cor-de-rosa, bem esta já me pareceu estranha. Qual a probabilidade de os 2 lixos que eu avistaria no meio do Atlântico serem 2 sacos de plástico da mesma cor? Bem, as minhas presunções mudaram de perspectiva ao terceiro e quarto avistamento, seriam caravelas-portuguesas? Depois de avistar dezenas delas e sem qualquer sucesso ter tentado fotografá-las com o telemóvel, faltava só a certeza oficial. Mais tarde, acabei por confirmar que se tratavam mesmo dos ditos cnidários (vulgo alforrecas), que se encontravam em grandes números também numa praia por onde passei no caminho para Povoação.

Bem, chegado a Ponta Delgada ao final do dia, era tempo de me ir instalar no São Miguel Park Hotel por uma noite, para apanhar depois na manhã seguinte um bus para Povoação e depois aí apanhar um táxi para a vila de Nordeste. Nas horas que me restavam antes de ir para a caminha liguei o GPS para ver se havia alguma cache escondida nas redondezas: yey, havia duas a 200 e tal metros cada uma. Não achei uma e achei outra, menos mal. Não havia tempo para mais, no entanto, e depois deste pequeno passeio por Ponta Delgada, voltei para o hotel.

Na manhã seguinte, e depois de um pequeno-almoço reforçado (belo buffet do hotel!), lá fomos apanhar o bus até Povoação. Tirando o facto de o motorista ter arrancado comigo ainda a meter as malas na bagageira, a viagem correu sem sobressaltos, pelas ruas estreitas e sinuosas do Sul de São Miguel. Aproveito para deixar a nota de que os açorianos aparentam ter o pé pesado e quando há situações de faixas estreitas para 2 viaturas, é a ver quem chega mais cedo ao estreitamento, muito travão se gasta aqui. Passámos pela conhecida paragem turística das Furnas, mas desta feita, nem sequer deu para sair do bus. Chegados a Povoação, apanhámos um táxi para a vila de Nordeste e a Estalagem dos Clérigos, onde ficaríamos alojados durante a semana inteira. No dia de chegada, lá fui eu procurar a cache da vila, mas sem sucesso.

O 1º dia em Nordeste foi passado a descansar, até porque o resto da equipa (o Paulo Borges e o Fernando Pereira, a.k.a. Pardal) só chegaria na segunda-feira. No domingo dia 6, também não houve um elevado gasto de calorias, mas acabou por ser interessante, visto que fomos procurar os priolos, juntamente com 2 membros da equipa da SPEA, que está lá monitorizando a população da simpática e roliça ave, uma espécie endémica da ilha de S. Miguel, não existindo em mais algum lugar do mundo, que não nas íngremes encostas da zona Nordeste da ilha, onde se encontram os últimos locais com floresta laurissilva, e à qual pertencem algumas espécies vegetais essenciais para a dieta destes curiosos passarocos. Por coincidência, acabámos por chegar ao local da cache da Serra da Tronqueira, e novamente, not found. Acabei por confirmar que esta foi mesmo levada, já que o colega da SPEA já a tinha visto por ali e desta feita não estava lá nada. Para saberem um pouco mais sobre o priolo, aqui o link para o site da SPEA.

Na segunda-feira dia 7 eis que chega o resto da equipa, numa carrinha toda pipi. Aquilo abria as portas de trás sozinha e tudo, além de outras gayzadas no seu interior.

O trabalho consistirá, de um modo geral, em efectuar batimentos de árvores e a montagem de armadilhas pitfall em transectos dentro de reservas. Cada reserva tem 2 transectos. Como estamos sempre “em cheque” no trabalho de campo, já que precisamos de bom tempo para efectuar os batimentos (em árvores secas) e estava um tempo porreiro fomos em direcção à reserva que de todas as 3 que queríamos amostras, é a mais propensa a apresentar uma grande humidade, que era o Planalto dos Graminhais. Um local notável, sem dúvida! Nunca tinha estado numa turfeira, um local dominado por plantas briófitas (entre as quais, os musgos), que cobrem toda a superfície do solo, que na verdade, não é bem solo a sério. Na verdade, o que está por debaixo do Sphagnum não é propriamente terra mas sim troncos de Juniperus, pelo que muitas vezes o solo se torna traiçoeiro e nos afundamos até ao joelho. As tonalidades do chão, com vários verdes e castanho avermelhado, em conjunto com as árvores toscas e retorcidas, devido aos fortes ventos marítimos (formações krummholz), tornam esta paisagem algo de completamente diferente de todas as que já tinha visto. Presumo que vá encontrar mais como esta, ao longo do trabalho de campo nos Açores, mas como esta foi a primeira, ficará sempre registada.

Depois de o 1º dia de trabalho de campo nos ter levado aos Graminhais, no segundo, e porque o tempo estava mais cinzento, fomos até à Serra da Tronqueira, onde já tínhamos estado aquando da visita aos priolos. Aí, debaixo de uma chuva constante, montámos os pitfall todos nos 2 transectos da reserva. A paisagem aqui é de certa forma diferente, pois dada a menor altitude, as árvores sofrem menos com os ventos e podem crescer um pouco mais. o Laurus azorica e o Ilex perado dominam aqui a paisagem e é de louvar o trabalho da equipa da SPEA que retirou a Clethra arborea (uma árvore nativa da floresta laurissilva da Madeira mas invasora nos Açores) desta encosta. Esta encosta onde andámos fica num dos flancos do Pico da Vara, o ponto mais alto de São Miguel. Desta vez não deu, mas pode ser que quando lá for levantar os pitfall possa ir até lá acima. Ah, e vimos mais alguns priolos, claro.

Na quarta-feira de manhã ficámos a triar material dos batimentos já efectuados nos Graminhais, e à tarde decidimos sair, mesmo com o tempo chato, já que sempre se acabavam de montar os pitfall nos Graminhais. De volta à turfeira, festa feita com chuva o tempo todo, tratámos de montar os ditos e voltámos a recolher e a esperar por tempos mais alegres.

Na quinta-feira o tempo estava melhorzinho, embora as nuvens não abandonassem o céu, e fomos primeiro aos Graminhais e imediatamente voltámos para trás, já que o nevoeiro e a humidade eram tantas que fazer os batimentos era impossível. Fomos tentar a Tronqueira e parece que os deuses estavam connosco porque as árvores estavam secas. Efectuámos os batimentos que faltavam ali e ao final da tarde estávamos aviados desta reserva.

Entretanto neste dia o Paulo Borges teve de regressar à Terceira e ficámos eu, o Pardal e a Carla. Depois disto estávamos à espera que o tempo nos Graminhais fosse bom e na sexta-feira depois de mais uma manhã de triagens no hotel, lá fomos para cima: sorte das grandes, estava céu limpo nos Graminhais! Toca a bater nas árvores! Depois disto, ficámos aviados de São Miguel e conseguimos antecipar o regresso para sábado, em vez de domingo.

No caminho para Ponta Delgada, ainda deu para eu parar nas Furnas para tentar loggar uma earthcache. A ver vamos se respondi a tudo correctamente. No aeroporto de Ponta Delgada, tudo normal, e lá fomos de abião para a Terceira. 20 minutos apenas mas que demoraram bastante, não só porque já gosto "bastante" de andar de avião mas porque estavam 2 broncos atrás de mim a fazer barulho o tempo todo. Grrrr...

Apesar de ter estado a recolher em locais onde existe floresta laurissilva nativa, é preciso assinalar que a ilha de São Miguel e em concreto a sua floresta, está dominada por plantas invasoras, que foram trazidas para a ilha como ornamentais, principalmente. As maiores árvores são as Cryptomeria japonica e o incenso (Pittosporum undulatum(?)), que infestam as encostas quase todas. Num estrato diferente, a "conteira" (na verdade, a verdadeira conteira, a planta cuja semente dá as contas com que se fazem os terços, é uma planta diferente), Hedychium gardnerianum, infesta tudo com os seus rizomas bolbosos. Infelizmente, é necessário calcorrear as encostas mais acidentadas do nordeste da ilha para encontrarmos a laurissilva.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Açores, a chegada

Bem, para quem não sabe ainda no dia 31 de Maio voei para os Açores, (ilha Terceira) já que fui aceite para trabalhar num projecto envolvendo artrópodes endémicos do arquipélago. Como agora estou longe da malta, deverei colocar frequentemente uns posts por aqui para contar as minhas aventuranças na região.

O vôo correu bem e a aterragem foi atribulada. Apercebi-me no avião que quem aparentava estar mais preocupado com a turbulência eram os forasteiros, já que os açorianos que me rodeavam estavam calma e serenamente a falar sobre as mil aterragens mil vezes mais atribuladas que aquelas às quais já sobreviveram.

Nos Açores estava de chuva e no continente estava calor. Aparentemente, é normal. Não! O que estou a dizer? Nada é normal a nível de condições climatéricas aqui, tudo é instável. Tanto pode estar sol como de repente vir nevoeiro e chuva. Tem é que se aprender a lidar com isso. Na verdade, para mim, que ando sempre com mochila, não me afectam muito as intempéries já que passo a enfiar o impermeável na mochila. Mas lá que chove… chove. A humidade é tanta que nos poucos locais onde a mão humana não chega o chão é composto por musgos e outros parentes (briófitos para os biólogos) de tal modo que não se vê a terra. Espero vir a ter oportunidade para conhecer alguns desses locais.

Esta primeira semana foi passada a conhecer instalações, locais úteis pela civilização, fazer compras e procura de casa (ontem e hoje). Not my cup of tea, mas tem de ser. Não tenho muitas fotos para vos mostrar, portanto (até porque só tenho o mobile para tirá-las e portanto não haverá muita qualidade nas fotos que tirar).

Em relação ao meu futuro próximo posso avançar que encontrei casa para passar este mês de Junho (já que estou momentaneamente na casa de uma investigadora) perto da Universidade, e que amanhã irei começar o trabalho de campo que se avizinha duro, com bastantes viagens. Espero vir a conhecer alguns dos locais mais interessantes do ponto de vista natural dos Açores, e isso começará na ilha de São Miguel. Então o plano dita que, devido à recusa da SATA transportar propileno, o tenhamos que transportador por barco. Portanto, chegando à noite a Ponta Delgada teremos (eu e a Carla Rego, post-doc associada ao projecto) que partir no sábado de manhã para o Nordeste, povoação da zona com o mesmo nome em São Miguel, onde ficaremos alojados durante a semana de trabalho de campo, o qual começará per se na segunda-feira (pode ser que dê para encontrar a única cache no Nordeste, who knows?). O trabalho de campo será na Reserva da Tronqueira, na Atalhada e nos Graminhais (esta última será opcional, caso o tempo o permita) e consistirá em pitfalls com isco e batimentos de vegetação. O regresso está agendado para dia 13 (a ver se não me esqueço de levar um dicionário do dialecto micaelense...).

Alguns factos curiosos:

1 – tenho apanhado bastantes fechaduras resistentes por aqui. Ou porque abrem e fecham ao contrário ou porque precisam do jeitinho, algumas têm-se revelado um autêntico quebra-cabeças (até acontece que uma fechadura normal de fecho eléctrico se torna difícil porque eu estou a pensar já ao contrário, enfim…).

2 – hoje estava aqui calmamente na Internet quando fui surpreendido por grotescos chamamentos na rua. Eram nativos que chamavam por um touro, preso por uma corda. Estamos na altura da tourada à corda (de Junho a Setembro) e isto é uma tradição que eu desconhecia por completo. Teria piada se eu fosse averiguar o que se passava abrindo a porta e dando com um touro chateado à minha frente, mas tal não aconteceu, já que estava num primeiro andar.