terça-feira, 20 de julho de 2010

Pico (I)

Pela altura que escrevo isto, já voltei do Pico há uns dias, mas ainda não tinha tirado o tempo para escrever qualquer coisa, muito por causa do facto de não ter ainda as fotos que se tiraram nalguns pontos de interesse desta expedição à ilha açoriana que contém o ponto mais alto de Portugal. Antes de mais, agradeço a quem as tirou e mas pôde passar (Guida, Isabel e Paulo Borges).

A viagem para o Pico foi feita – novamente – de barco. Desta feita, a distância a percorrer era menor pelo que não se perdeu assim tanto tempo quanto nalgumas das expedições passadas. Chegados a São Roque do Pico (eu, a Guida e o Joaquin) apanhámos um táxi para a Madalena, na Costa Oeste da ilha. Já tinha ouvido dizer que a floresta laurissilva no Pico até está melhor que noutras ilhas, mas já estava à espera de encontrar uma floresta de baixa altitude muito degradada, com muitas plantas exóticas e invasoras (incenso, pinheiros, etc.). Bem, chegados à Madalena, instalámo-nos em mais 1 hotel de 4 estrelas: são os “ossos” do ofício… A Isabel Amorim e o Paulo Borges juntaram-se à comitiva umas horas depois da nossa chegada, ainda a tempo de jantar.

Como não anotei o dia-a-dia no bloco de notas, já não me lembro bem do que aconteceu em cada dia, mas as várias zonas de trabalho consistiram nos Mistérios da Prainha, no Caveiro e no Chão Verde. O 1º destes locais trata-se de um dos locais mais perigosos de todo o Bala II, já que é uma zona de fendas de lava, onde cada passo é uma armadilha e se parte uma perna com facilidade, além disso meter pitfall aqui torna-se um bocado cansativo, devido à falta de terra (musguinho é amigo!). Este foi logo o 1º, que é para despachar. As árvores nesta paisagem rugosa de lava não são muito exuberantes, e pouco se encontrava ali além dos Juniperus brevifolia (cedro-do-mato), Ilex perado (azevinho), Vaccinium cylidraceum (uva-da-serra) e Erica azorica (urze ou vassoura para os nativos).

Já no Caveiro, apanhámos uma floresta muito mais alta e exuberante, e num dos dias, até uma boa dose de sol. Aqui os vários tons de verdes do Laurus azorica dominavam a paisagem e observam-se muitos exemplares da planta semiparasita do Juniperus brevifolia, o Arceuthobium azoricum (fotografado aqui em S. Miguel pelo Pardal) e ainda dois fetos raros que existem nos Açores e Madeira de nome Diphasiastrum madeirense e Elaphoglossum semicylidricum. Ambos os transectos do Caveiro foram relativamente (bota relativamente nisso!) fáceis de aviar, restando só os batimentos de 1 deles para fazer mais tarde, quando o tempo o deixasse.

Um dos pontos de maior interesse em toda a expedição foi quando nos deslocámos ao Pico da Urza, uma pequena caldeira a Este do Pico (monte). Aqui parámos para procurar escaravelhos Tarphius, para o trabalho da Isabel. Como estes malandros são xilófagos e gostam de troncos de Euphorbia stygiana, andámos a parar em vários locais durante a semana para tentar encontrar os ditos. Ora, como se trata de uma planta rara, quando há Euphorbias não há normalmente muitas, mas na caldeira do Pico da Urze estas são relativamente densas, pelo que tive a oportunidade de estar numa pequena floresta de Euphorbia stygiana! Fantástico! Uma viagem ao passado, quando todos os Açores estavam cobertos de uma floresta contínua de laurissilva…

De Tarphius é que nada, infelizmente. O único local onde encontrámos os ditos foi na Reserva da Lagoa do Caiado, onde a minha técnica destrutiva de recolha de Tarphius se tornou bastante proveitosa e popular na recolha dos pequenos beetles endémicos. Inclusivamente, no final da semana o chefe estendeu-me a estadia para ficar a ajudar a Isabel na recolha dos Tarphius.







Quanto a isto, tenho a dizer que 2 em 5 não é nada de fabuloso, mas o requisito mínimo foi alcançado. No final de um destes dias, ainda passámos na Casa de Montanha, onde fomos averiguar se seria possível subirmos o Pico no dia seguinte, de manhã. A mulherzinha disse-nos que no dia seguinte não se fariam subidas, devido a piores condições meteorológicas. Nisto, chega um grupo de bombeiros, para ir resgatar um acidentado que se encontrava aos 1500 m de altitude (a casa de montanha está aos 1200). A Isabel desafiou-me para irmos atrás deles, e depois de termos autorização, lá fomos. No início a subida puxou um bocado, porque começa de uma forma íngreme e começou-me a dar a bronquite, mas foi só encontrar o ritmo e lá subimos um bocadito. Estávamos já nos 1600 metros quando quando a maquineta que nos dão servindo de emissor de sinal GPS e de telefone começou a apitar! Os malandros da casa de montanha viram que já tínhamos passado a altitude permitida e lá nos disseram para começar a descer. Se é verdade que sabíamos que não iríamos até lá acima, também o é que ficámos um pouco tristes com a descida forçada. Ainda assim, pudemos observar uma bela vista sobre a encostas Oeste do Pico, com realce para a grande quantidade de vulcões que se podem avistar dali (como disse a Isabel, parece que aquilo foi um gigante que, quando isto era feito de plasticina, andou a meter os dedos) e também a vista sobre o Faial. A subida até ao Piquinho ficará para outra vez. Reminder: dizer à Sandra para me trazer os batons.

Quanto à vertente gastronómica, o ponto forte foi ter provado o cavaco, crustáceo muito parecido com a lagosta, mas mais saboroso. Se o leitor for ao Pico e estiver na Madalena, recomendo O Ancoradouro como casa de pasto. Queijinho muito bom nas entradas e ninguém alguma vez saiu desgostoso com a sua refeição. A experiência mais alternativa foi ter provado cortume (será que é assim que se escreve?), uma espécie de pickle feito com as folhas carnudas de Chritmum maritimum: não era horrível, mas também não me satisfez lá muito bem, 2 em 5 valores.

Nota ainda para a paisagem de património mundial da Unesco, da vinha dos Açores. Nas zonas costeiras do Pico, encontram-se muitos terrenos com pequenos quadradinhos de pedra, que contêm apenas 2 ou 3 pés de videira cada. Infelizmente, alguns destes terrenos estão completamente abandonados, o que é uma pena… Chega-se ao ponto em que o facto de ser paisagem protegida não influencia, de facto, a sua protecção e manutenção.

Na terça-feira dia 20, de manhã, lá fui de volta para a Terceira. Uma pequena viagem de mais ou menos 30 minutos. Voltarei ao Pico daqui a uma semana para ir recolher os pitfall.

Ah! E já me esquecia de contar o episódio insólito da expedição: ora, num destes dias acordo, abro o cortinado, e dou com um saco de adubo (vazio) na varanda!!! Humm, como não sabia o que lhe havia de fazer e tinha de ir para baixo tomar o pequeno-almoço, deixei-o estar. O episódio por esta altura ainda não tinha entrado bem na minha mente pelo que lá ficou. O curioso é que as senhoras da limpeza devem ter achado que o saco era de alguma forma, meu, e portanto toca a dobrar o dito bem dobradinho debaixo da mesinha de cabeceira… Ao fazer o check-out perguntei aos senhores se alguém sabia alguma coisa de um saco de adubo, mas ficaram todos surpreendidos, não mais do que eu certamente… O saco de adubo acabou por se tornar numa das piadas desta expedição.

domingo, 11 de julho de 2010

Serra de Sta. Bárbara

Na véspera deste domingo fui convidado pelo Pardal para ir conhecer a Serra de Santa Bárbara, ou pelo menos um pouco dela, juntamente com outros colegas (a Isabel Rosário, a Diana Northup e o Airidas). Prontamente aceitei o convite, já que, como ainda não assentei bem por aqui, ainda não tenho rotinas e preparava-me para ter um domingo sem qualquer ponto de interesse. Além disso, o tempo tem estado maravilhoso e certamente que apanharíamos melhor tempo que o imenso nevoeiro que apanhei quando fui até lá juntamente com o Pedro, Clara e Carla.
Lá fomos pelas 9 da manhã em direcção ao ponto mais alto da Terceira. Chegados lá, abandonámos o asfalto e enveredámos pela turfeira inicial que existe no 1º patamar de abatimento da caldeira. Com o devido cuidado para não metermos a pata na água/lama que muitas vezes se confunde com Sphagnum, lá progredimos até chegarmos à caldeira. Depois de apreciarmos belas vistas sobre a borda da caldeira, decidiu-se que desceríamos por um caminho mais ao lado até lá abaixo. Na descida, começámos a encontrar uma planta endémica muito curiosa, a Angelica lygnescens, uma planta anual que cresce bastante e adiciona à paisagem um toque... diferente.
O ponto mais distante da nossa caminhada seria a borda da Lagoa Funda no fundo da caldeira. Aqui observavam-se várias espécies de libélulas voando e interagindo umas com as outras e o feto endémico Isoetes azorica. Umas rãs coaxavam por ali. Chegados à borda da lagoa, foi só encontrar um belo sítio para abancar e comer a buxa. Como ninguém me avisou que o passeio ía ocupar a hora de almoço, lá tive que cleptoparasitar a malta. Uma excelente pausa num também excelente lugar.
Seguindo para cima, encontrei ainda algumas aranhas por aquelas bandas, nenhuma delas nada que não fosse já conhecido da Terceira, mas ainda assim ainda tive a sorte de encontrar e mostrar alguns exemplares da Pisaura acoreensis, a maior aranha endémica dos Açores, que capturou a atenção dos presentes durante uns instantes. Aqui, uma fêmea com o saco de ovos. Além desta exuberante menina e outras como ela, que por ali apareceram, encontrei também Xysticus cor, Sancus acoreensis e mais uma ou duas espécies que não são novidade.De volta ao carro, altura para verificar que estava uma cache mesmo ali a uns 300 metros. Lá fomos em busca de mais um tesouro no tecto da Terceira, iniciando o Airidas no geocaching. O Pardal encontrou-a rapidamente e pudemos regressar, com o sentimento de missão cumprida. :)
No regresso, pausa ainda no posto d'Os Montanheiros na Gruta do Natal para um gelado e também na única lagoa onde existe um feto endémico que é um trevo-de-quatro-folhas, a Marsilea azorica (ver foto aqui). Infelizmente, a lagoa tem algum lixo e está mesmo junto a uma pastagem pelo que a espécie está seriamente ameaçada. :(
Depois disto, fomos todos entregues cada um a sua casa, para o respectivo banho e descanso. Um belo passeio por uma das - senão A - zonas mais bonitas da Terceira e de todos os Açores, e espero voltar a fazer destas passeatas em breve novamente.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Flores

Tal como já tinha relatado para S. Miguel, lá tive que ir de barco novamente, desta feita para as Flores, numa viagem de 12 horas... :( E como se isso não bastasse, a partida foi às 7 da matina, e portanto era para estar no porto às 6:30, e portanto chegar à Praia da Vitória e tal... Acordar pelas 5:15 da madruga para preparar tudo. Como me deitei cedo já a contar com isto, o levantar nem foi o pior, e de manhã, já no barco, deu para recuperar algum do sono perdido. O problema foi quando acabei essa pequena sesta matinal. Como não tinha o computador comigo nem literatura, foi uma grande seca. Para evitar que me desse a sonolência no interior abafado do barco, e ficasse com o sono trocado, decidi ir lá para fora ver o ambiente. Lá fora, o vento soprava de Noroeste sensivelmente e a fresca marítima sabia bem ao corpo e à mente. O tempo estava nublado, mas com abertas. O mar, esse, estava calmo, mas ligeiramente mais agitado do que o que apanhámos quando fomos para S. Miguel. Algumas ondas mais potentes rebentavam com estrondo no casco do navio, e quando havia abertas, singelos arco-íris faziam uma curta aparição. Ainda esperei avistar cetáceos em tão longa espera, mas a sorte não quis nada comigo. Esporádicas caravelas fizeram-me companhia por breves instantes mas deixaram de ser uma novidade desde há alguns dias atrás. A surpresa aconteceu quando, subitamente, eis que um peixe-voador efectua o seu típico salto, afastando-se do navio com as suas barbatanas peitorais e pélvicas bem abertas numa planagem perfeita, que é finalizada num mergulho que rapidamente oculta o curioso animal. Fiquei bastante agradado com este fugaz avistamento. De uma forma muito geek, pensei: "Vi um Mulldrifter!" (private joke para os meus amigos do Magic) 12 horas depois, eis que chego ao concelho mais ocidental da Europa! O carro de aluguer estava ali à nossa espera e foi só carregar as malas e seguir para o hotel. Este hotel onde ficámos alojados (eu e a Carla, que me acompanhou na longa viagem) está localizado à beira-mar e já não me lembro da última vez que adormeci com o som do mar. Muito relaxante. Ao final do dia, nota para os sons da natureza: as cagarras (uma ave marítima, para quem não sabe) que regressam do dia no mar à pesca, vocalizam de uma forma bastante característica (ouçam vocês mesmo aqui). No final deste 1º dia, o cansaço era grande por isso toca a dormir! O domingo foi para fazer um pouco de turismo e geocaching. De manhã tentei encontrar o acesso para o Monte das Cruzes, um pequeno morro que olha sobre Santa Cruz das Flores. Chegado ao miradouro, foi procurar a cache até fartar, pois esta teimou em não aparecer. Decidi voltar ao hotel pois a hora de almoço aproximava-se e a cache mais próxima encontrava-se a 9 km de distância. Almocei um goraz grelhado num restaurante local que estava bastante bom. À tarde, decidimos ir conhecer um pouco da ilha. À medida que começamos a subir, o nevoeiro adensa de tal forma que a visibilidade na estrada não devia ir muito além dos 10 metros! Estaríamos a percorrer o centro da ilha e a passar por algumas lagoas, mas destas nem sinal, era só nevoeiro. O ponto mais interessante desta viagem terá sido mesmo o encontrar de uma cache perto da Lagoa Funda. Seguimos depois para a costa Oeste da ilha, em direcção à Fajã Grande. Aí, chegámos até uma zona com piscinas naturais e com rochedos vulcânicos bem negros: uma pequena pausa para virar calhaus. Dei com um macho de Dysdera, mas talvez seja crocata, uma espécie cosmopolita já citada para os Açores. Pouco depois, voltámos para trás e demos com a procissão das festas de S. Pedro, na Fajã Grande. Esperámos um pouco e lá fomos. Voltámos para trás pelo mesmo caminho e ficámos pelo hotel. Sentia-me cansado no final do dia, mesmo sem ter feito nada de jeito, talvez devido à redobrada concentração durante a condução no nevoeiro e devido às variações de altitude.

No dia II, segunda-feira, chegavam o Paulo Borges e o Pardal, para iniciarmos o trabalho de campo. Como tal, lá fomos procurar o local onde instalaríamos o nosso laboratório de campo e prepararíamos as armadilhas. Depois de almoço, e porque os outros só chegariam pelas 16:30, e também porque estava bom tempo, decidimos ir pela costa Este das Flores ver as vistas. Rapidamente se avista o Corvo ao fundo.
Continuando, chegámos a uma placa que dizia "Lagoas" e como o tempo lá para cima estava do melhor, lá fomos. Bem dizia o Paulo Borges que as Flores eram o reino do Sphagnum: nesta zona alta, o solo está coberto de musgos, chegando a transformar os barrancos que ladeiam as estradas em almofadas gigantes de tons esverdeados, amarelos ou alaranjados. Depois de pararmos um pouco para observar uma cascata que vertia ao longe, seguimos a boa velocidade para Santa Cruz, já que a hora de ir buscar o resto da comitiva estava perto. No entanto, ainda tivemos tempo para uma paragem perto da Caldeira Branca para uma foto rápida.
Como o tempo estava bom o essencial era aviar já uns batimentos. O 1º transecto foi uma encosta junto à Caldeira Funda. O transecto ficou quase pronto, ficando só a faltar as 15 pitfall de propileno. No caminho do restaurante onde iríamos jantar, passámos pelo local mais emblemático das Flores, o Poço da Alagoínha, uma lagoa onde desaguam várias cascatas que correm paralelas do planalto em cima. Sem palavras...
Fomos jantar a um restaurante na Fajãzinha, na costa Oeste da ilha e reparei que existia um prato de algas na ementa. Decidi experimentar a "Torta de Erva-do-mar", ainda que com algum receio. No final, estava globalmente satisfeito pois provei uma refeição diferente composta por algas, batata-doce, e um bocado de inhame que roubei do prato do Pardal. O sabor das algas não é divinal, mas comem-se bem e sempre dá para sair da rotina de carne/peixe. Next stop: hotel, duche e descanso!
O 2º dia de trabalho de campo não teve muito para contar: de manhã, triagens dos batimentos do dia anterior, almoço, e depois mais um transecto completo, na zona do Pico da Sé, junto à Ribeira do Cascalho. Ainda tínhamos tempo e fomos acabar o transecto do dia anterior, pelo que foi um dia muito produtivo. Ao final da tarde, altura para ver Portugal a ser eliminado do mundial pela Espanha: que equipa tão fraquinha, seria injusto se passássemos nós...
No 3º dia da expedição Flores fomos "brindados" com fortes ventos matinais, que trouxeram o nevoeiro às terras altas. Como as árvores estavam molhadas, só deu mesmo para ir cavar pitfall a uma mancha de Juniperus brevifolia que constitui um dos transectos aqui nas Flores.
À noite, depois do jantar, regressámos à nossa Liga de dominó, que estava empatada a 1 jogo para cada lado, depois dos primeiros 2 embates em S. Miguel. Neste 3º jogo, eu e o Pardal não demos hipótese e adiantámo-nos no marcador. À excepção do trabalho de campo e da "dominó-zada", este dia foi bastante banal.

O 4º dia apresentou-se cinzento desde cedo. Em Santa Cruz ainda estava decente, mas à medida que subimos o nevoeiro adensa-se e cai alguma chuva: não há condições de trabalho. Entretanto, a meio da manhã fomos deixar o Paulo Borges ao aeroporto, já que o vôo dele de 6ª feira foi cancelado devido à greve da SATA. Depois de assistirmos o chefe na sua fuga do trabalho de campo, fomos até à zona central da ilha, e comprovámos que não dava para fazer nada; decidimor aproveitar o tempo para ir procurar as duas caches que se encontram na zona da Fajã Grande. Começámos pela Escada do Céu (eu e o Pardal). Da estrada até ao ponto da cache eram apenas 300 e tal metros, mas eu já desconfiava que não ía ser tão fácil assim. Para chegar lá acima era preciso subir por um íngreme zigue-zague com piso escorregadio, perfeito para tralhar e partir ossos, pelo que a progressão tinha que ser feita com redobrado cuidado. Cheguei lá acima a pingar suor, e ainda com nevoeiro a ocultar a belíssima vista sobre a Fajã Grande. Então fomos procurar a dita cache e foi uma busca morosa, a malandra teimava em não aparecer, grrr... Entretanto, o nevoeiro começou a levantar e ainda houve momento kodak.
Voltámos à busca. Foi já no limiar da nossa paciência que dei com a dita! Yey! E depois deste find que, dada a dificuldade, me deu um bom gozo, encontrava agora no container a cereja no topo do bolo: uma aranha de borracha! É a 3ª da minha colecção de aracno-goodies. Depois da descida, chegámos ao carro já pelas 14:00 e fomos procurar almoço na Fajã Grande. Infelizmente, os tipos do restaurante já tinham a porta fechada às 14:08, pelo que tivemos que improvisar com umas bifan
as. De seguida, fomos tentar a cache da Vigia da Baleia, ali bem perto. Foi uma caminhada simpática, quando comparada com a anterior, e a cache foi rapidamente encontrada. Enquanto estávamos na vigia, recebemos a visita de um casal de lisboetas que percorriam o trilho Fajãzinha/Fajã Grande, e mais tarde, da Carla, que andava por ali a montar armadilhas para apanhar as suas Drosophila. Depois de uma ou duas fotos tiradas, começámos a rota de regresso quando eram cerca de 16:00. Parámos um pouco à frente, no Poço da Alagoinha, um dos pontos de atracção turística mais populares das Flores, que é a lagoa onde caem várias cascatas em simultâneo. Só foi pena o nevoeiro, que não deixava ver o topo das cascatas, mas ainda houve momento kodak (thanks again, Pardal). Depois, só uma paragem, no Miradouro Craveiro Lopes, com vista sobre a Fajãzinha e o próprio Poço da Alagoinha, e bora para o hotel. Este foi um dia praticamente em cheio para fazer turismo, só pecando pela nebulosidade em demasia nas terras altas. Ao fim do dia, tempo para descansar ao som do mar e das cagarras.

Dia 5: Fomos presenteados com um belo dia e portanto fomos acabar o trabalho de campo. Primeiro, no Morro Alto, e depois no juniperal perto da Caldeira Funda. Aí pelas 19:30 quando nos sentámos para jantar, descobrimos que o nosso vôo também foi alterado pela SATA devido à greve dos tripulantes de cabine: que bela caca! Agora é ficar aqui retido até terça-feira, e eu com coisas para tratar na Terceira.
2 curiosos termos do vocabulário das Flores:
Espertalhotes = coelhos
Enforcadeira = gravata
Diga-se que os coelhos aqui nas Flores são o vertebrado que mais se vê, juntamente com os melros. São às dezenas e a toda a hora do dia: uma autêntica praga!
Ah! Neste dia passámos também noutro marco das Flores: a Rocha dos Bordões, um maciço com colunas prismáticas, tal como O Piano, em Porto Santo.

Ese sábado começou como têm começado os dias desta semana: com triagens dos batimentos da véspera. Depois do almoço, e porque agora temos tempo de sobra para acabar as triagens, fomos conhecer a Fajã Lopo Vaz, uma fajã na costa Sul das Flores, que além de ser um sítio interessante por si mesmo, ainda tinha o bónus de ter uma cache lá escondida, a qual era neste momento a última das 5 que ainda não tinha sido procurada. A caminhada para baixo é bastante fácil e bonita, pois o trilho foi recentemente arranjado e, portanto, caminhamos sempre com vista panorâmica sobre o oceano e a fajã. Ao chegar lá abaixo, percorremos um pequeno trilho que percorre a fajã, passando pelas 4 ou 5 casinhas que lá existem, a maior parte delas só ocupadas temporariamente pelos donos em altura de férias. Esta fajã era mais típica do que a que encontrámos em S. Miguel, pois havia menos casas (ou nenhuma) à Jet7. Cada uma estava normalmente rodeada por canteiros com bananeiras, inhame ou até abacaxi, além de outros vegetais mais normais. E até ali se viram vacas, pastando num pequeno serrado. Findado o trilho, cheguei até ao mar. Aqui vivi um momento muito à Sir David Attenborough, já que fui atacado por um garajau. Provavelmente terei passado perto demais do seu ninho e o bicho fez vários vôos picados contra mim, vocalizando de forma característica. Para os mais imaginativos de vocês: não, não levei bicadas! :p Comecei a caminhar no sentido inverso à colónia de garajaus mais abaixo, mentalizando-me que o 1º banho do ano seria numa praia de areia vulcânica açoriana, em roupa interior. Fiquei só na zona de rebentação, já que não conhecia o mar, mas a temperatura era bastante boa, mais quente do que as praias da zona centro do continente que conheço. A seguir ao banho, foi só esperar até reunir as tropas e iniciar a subida. Debaixo do sol das 17 da tarde, lá fomos, cada um a seu ritmo. Liderei o pelotão (já que o Pardal controlava o progresso da Carla) para queimar mais algumas calorias. Cheguei ao topo a pingar suor, mas valeu a pena! Ah, é verdade, já me esquecia: quando chegámos lá abaixo, o Pardal encontrou a cache. 4 em 5. Findada a festividade principal do dia, ainda fomos visitar um miradouro sobre as Lajes e voltámos a passar pela Rocha dos Bordões. O resto tem pouco para contar: jantar, descanso, xixi e cama. Na foto, eu a caminho da Fajã Lopo Vaz.
No domingo em que supostamente iríamos embora, lá fomos acabar as triagens e arrumar a trouxa para terça-feira. De seguida, fomos pela costa Este conhecer alguns pontos de interesse, sempre guiados pelo Pardal. Estivemos nas povoações de Ponta Ruiva e de Ponta Delgada, para depois nos dirigirmos ao Morro Alto, o ponto mais alto das Flores. Depois de jantar começou a luta contra o tédio, já que não tínhamos mais nada para fazer e já conhecíamos praticamente toda a ilha, tendo já procurado por todas as caches da mesma. Hoje provei filetes de mero com molho de amêndoa, estava bom! Reminder: arranjar leitor de mp3 para ter música quando não tenho o computador comigo.

O último dia pelas Flores foi, portanto, um dia para tentar ir aos poucos recantos onde ainda não tínhamos estado. De manhã, visitámos o Parque de Lazer da Alagoa, na costa Norte da ilha. Aí, para variar, ainda recolhi uma ou duas aranhas com interesse, embora ache que são espécies já conhecidas. Almoçámos na Fajã Grande e visitámos o Poço do Bacalhau, uma pequena lagoa para onde cai uma das imponentes cascatas que existem nesta zona da ilha. Dizem que tem esse nome porque ao final da tarde a água faz um efeito que se assemelha à cauda de um bacalhau.
De seguida, o Pardal foi procurar uns Tarphius à zona da vigia da baleia, que já tínhamos visitado antes, e eu fui ver as vistas durante um bocadito. Findada esta actividade, rumámos em direcção à zona das Lajes. A certo ponto, parámos junto a um serrado no qual estavam alguns bovinos, pastando pachorrentamente. Depois de eu e a Carla tentarmos interagir com eles, oferecendo-lhes erva, o Pardal mostrou-nos que elas gostam é de Holcus lanatus, e depois de agarramos um pouco desta gramínea, a vaquinha lá veio ter connosco, embora com alguma relutância. O boi não quis interagir, mas ainda conseguimos umas festinhas na vaquinha. Não aconteceu muito mais além disto e fomos para o hotel. Ao jantar, mais um belo peixinho: goraz no forno.

Tendo em conta que no dia da partida não aconteceu nada de relevante, posso então concluir a minha única expedição às Flores com algumas notas:
A nível paisagístico, fiquei agradavelmente surpreendido com o recanto mais ocidental da Europa. Muita lagoa, cascata e locais que vale a pena parar para apreciar a obra da Mãe Natureza. Para vir descansar é muito bom, pois não se passa nada. Come-se bastante bem, apesar de também não ter razões de queixa dos outros locais que já visitei aqui nos Açores. E por último, tinha algumas caches porreiras. Tirando a greve da SATA, a estadia nas Flores foi 5 estrelas.
Neste momento, escrevo estes relatos e pensamentos no aeroporto do Faial, porque o vôo de volta à Terceira não era directo e, apesar de já ter dado umas voltas pela Horta, não vou alongar-me mais. Assim que chegar à Terceira, tenho que se ver vou tratar da mudança de casa.
Ah! Uma coisa chata das Flores foi que perdi o meu chapéu de aracnólogo. :( O Pardal deu-me um chapéu do Algar do Carvão, mas não é a mesma coisa... A ver se arranjo um substituto, um dia destes...