quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Retro gaming I

Para quem me conhece, sabe que gosto de jogar um bom jogo de computador de vez em quando. Já fui até mais viciado do que sou agora, como é normal, dado o passar dos anos, e quem me conhece já desde há algum tempo sabe o tempo que passei a jogar jogos como Unreal Tournament, Aliens vs Predator (1 e 2), FIFA (de 199X a 2000) e principalmente, WORMS!
Mas mesmo para os amigos que já me conhecem há muito tempo, se lhes perguntassem quais os primeiros jogos de computador que eu joguei, a resposta seria algo como um "não sei", ou então qualquer coisa de errado. Os primeiros jogos que joguei estavam no Atari 800XL que era do meu irmão, e no qual joguei até ter a minha Mega Drive. Antes de surgirem as ditas consolas, algo tão simples e banal como um gamepad era estranho. Era o joystick que dominava e as plataformas onde se jogava davam até para programar em linguagens bastante simples e tinham teclado (Atari's e Spektrum's). Os jogos eram inseridos num gravador de cassetes e demoravam uma eternidade até carregarem, no caso do Atari do meu irmão.
Vou periodicamente assinalar alguns dos jogos que durante a minha infância, ajudaram a que desenvolvesse capacidades cognitivas, e que, por outro lado, também me fizeram perder tempo que poderia ter gasto a fazer trabalhos-de-casa da escola.
É claro que não vou pedir ao leitor que vá arranjar um Atari ou um Spektrum que funcione mas como hoje temos essa ferramenta que é a Internet convido-vos a jogarem um pouco de Frogger!
Vai até a http://www.freefrogger.org/ e ajuda os sapos a chegarem aos seus refúgios, atravessando a estrada e depois o rio. Se, ao começares a jogar dás por ti a pensar que isto é para meninas, aguarda só até chegares ao nível 4 para a adrenalina começar a subir com travessias arriscadas e ultra-rápidas! Uma fiel reprodução do jogo que terá feito as delícias dos primeiros jogadores de computador.
O meu high-score pessoal de momento é: Nível 10 » 41.850 pts (6.I.2010).
Have fun. :)
De notar o facto de os anfíbios serem hoje dos animais que mais sofrem com as nossas estradas, as quais cortam o caminho até charcos temporários onde os animais acasalam, além de serem também os anfíbios dos vertebrados que mais directamente sofrem com as alterações climáticas e com a poluição.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Póvoa Dão

No passado fim-de-semana fui com a Sandra até à Póvoa Dão, uma pitoresca povoação a alguns km de Viseu. Este local tem sido restaurado e terrenos circundantes têm sido restaurados por uma conhecida empresa de construção e como andam a fazer o levantamento da diversidade local em conjunto com algumas Universidades, coube à Sandra tratar dos macrofungos da zona. Aproveitei para colaborar no trabalho de campo e ir passear um bocado. Tínhamos boas condições já que a empresa está a explorar a povoação para turismo rural e de habitação e tivemos à nossa disposição uma casa onde ficar e refeições.

No sábado de manhã, partimos cedinho de Coimbra, juntamente com um colega nosso (José Cerca) do 2º ano que também está a colaborar com o projecto, mas na parte das plantas. Depois de nos instalarmos devidamente, lá nos pusemos a procurar coisas, principalmente fungos. No final dos 2 dias de fim-de-semana tínhamos avistado e recolhido uma grande panóplia de macrofungos: desde os "corais", "taças", "prateleiras", fungos gelatinosos (aquele Tremella mesenterica amarelo ali na foto) passando por quase todas as famílias existentes em Portugal de cogumelos clássicos de chapéu e pé, e acabando nos fungos "bola", só para citar alguns tipos (encontrámos até um Myxomyceto!). No que diz respeito à sua "culinaria-bilidade" alguns comestíveis (poucos), muitos tóxicos e alguns até mortais, como a Amanita muscaria (o vermelho na foto) ou a A. phalloides!
De assinalar também que no sábado apanhámos uma grande molha... Já estávamos de sobreaviso por causa das previsões meteorológicas, de modo que todos tínhamos algumas peças impermeáveis vestidas mas mesmo assim, acabámos o campo às 15:30 porque já começávamos a estar molhados (eu em particular diga-se...) de um modo bastante significativo.

Como é praticamente impossível eu andar no campo sem pelo menos virar uns calhaus ainda trouxe alguns aracnídeos e nem tudo foi banal já que pela primeira vez no campo encontrei Amaurobius em Portugal, já tinha encontrado A. similis em Espanha mas em Portugal nunca tinha visto. Desta feita, foi o A. occidentalis, já citado para o país e presente no Norte. Também encontrei um refúgio de Atypus affinis, uma aranha bastante "primitiva" que existe em Portugal, mas não recolhi o animal pois não valia a pena; o seu refúgio é subterrâneo, a aranha passa quase toda a sua vida dentro daquele tubo de seda coberto com restos de terra e de manta morta, saindo apenas para dispersar quando juvenil ou quando um macho adulto abandona o refúgio para ir achar uma fêmea e o método pelo qual caça as suas presas inspira uma cena de terror, já que as presas são literalmente trespassadas pelas enormes quelíceras desta aranha, de dentro para fora do tubo sedoso, e depois puxadas para baixo (para depois a abertura ser remendada a pronto pelo Atypus) para serem devoradas. A nível de aranhas interessantes, foi só. Também trouxe alguns Opiliones e penso que poderei ter capturado uma espécie que não estava confirmada para Portugal, Leiobunum rotundum, mas ainda tenho que confirmar isto quando enviar o bicho a um investigador espanhol que é especialista em Opiliones (e tenho que fazer um post a explicar o que é um Opilione, já que poderei falar neles mais vezes).


sábado, 7 de novembro de 2009

Myrtilis

Desloquei-me ao Alentejo profundo com o objectivo de ajudar a colega Joana Seta no trabalho de campo da sua tese de mestrado. Foi até agora a minha viagem mais longa como driver, correu tudo bem na estrada. Aproveitei, obviamente, os meus connects por entre o povo mertolense para ficar alojado em casa de amigos e, mais particularmente, na selva de livros e outros elementos de armazenamento de informação que é o quarto do Tó.
Dia 5 alas que se faz tarde, bora pó campo. O local do estudo era o terreno da mina Neves - Corvo (entre Mértola e Almodôvar) e alguns terrenos circundantes. Já que na mina a preocupação com a segurança estava sempre em primeiro plano, então lá ía eu de capacete e colete brilhante de visitante. Os terrenos da mina tinham o típico aroma metálico causado pela indústria mas lá se encontraram algumas aranhas, opiliones e até um solífugo (Gluvia dorsalis, claro, o único que existe em Portugal). Depois de almoço saímos dos pontos dentro dos terrenos da mina e andamos no típico montado de azinheira presente naquela região. Já era de noite quando consegui com sucesso encontrar uma toca de Iberesia machadoi, uma buraqueira de porte considerável. Depois de escavada a toca, lá consegui tirar a ocupante cá para fora, era uma brutal fêmea adulta!
Cheguei a casa dos Matos já por volta das 9 e tal, mas ainda tive tempo para ver o Benfas a dar 2 ao Everton. Agora o próximo passo era recuperar um pouco para o segundo dia, que prometia ser mais intenso que este.
Neste dia fiquei a saber também acerca de um elemento linguístico do dialecto local relacionado com a aracnologia, "ana-clara" (ou anaclara?). Ora, o que é uma "ana-clara"? Dizem as vítimas de sua picada quando chegam ao centro de saúde de Mértola ao médico "Olhe, fui mordido por uma ana-clara." O nome científico de uma ana-clara é Buthus ibericus, e é na verdade o mesmo que lacrau, ou escorpião. Apesar de dolorosa, a sua picada não evolui para nada mais grave do que uma dor intensa nas horas seguintes à picada.
Dia 6, toca a acordar às 7 de la matina para ir para o campo a horas decentes. O plano de trabalho foi semelhante ao do dia anterior, mais aranhas e opiliones e mais 3 tocas de Iberesia escavadas, (com sucesso em remover o ocupante em bom estado apenas numa delas) e ao final do dia uma dose de cansaço considerável, pois como andei o dia quase todo a olhar para o chão, de cócoras ou de joelhos, em busca de tocas de buraqueiras e a virar calhaus, estava com uma dor de costas jeitosa.
Bem, findado o trabalho de campo, era ir dormir que amanhã a viagem era longa, já que o Tó me convidou para ir ao rasganço dele à velha Coimbra. Ainda o tinha que o ir buscar a Évora, e ainda andei às voltas com o carro em ruas brutalmente estreitas, mas correu tudo bem.
E pronto, este relato de trabalho de campo no Alentejo profundo acaba aqui, pois chegados à noite de Coimbra, nada do que se passou depois tem algo minimamente a ver com o que acabei de escrever (2 fulanos nús a correr pela cidade, diga-se...).

Uma última nota acerca do grande dialecto local de Mértola, que tem mais dois termos relacionados com a aracnologia:

Tiaça » teia de aranha
Cavalão » Pholcus phalangioides ou vulgarmente, um aranhiço (aquelas aranhas de patas compridas e corpo pequeno), julgo que também se pode aplicar a opiliones...