No passado fim-de-semana fui com a Sandra até à Póvoa Dão, uma pitoresca povoação a alguns km de Viseu. Este local tem sido restaurado e terrenos circundantes têm sido restaurados por uma conhecida empresa de construção e como andam a fazer o levantamento da diversidade local em conjunto com algumas Universidades, coube à Sandra tratar dos macrofungos da zona. Aproveitei para colaborar no trabalho de campo e ir passear um bocado. Tínhamos boas condições já que a empresa está a explorar a povoação para turismo rural e de habitação e tivemos à nossa disposição uma casa onde ficar e refeições.
No sábado de manhã, partimos cedinho de Coimbra, juntamente com um colega nosso (José Cerca) do 2º ano que também está a colaborar com o projecto, mas na parte das plantas. Depois de nos instalarmos devidamente, lá nos pusemos a procurar coisas, principalmente fungos. No final dos 2 dias de fim-de-semana tínhamos avistado e recolhido uma grande panóplia de macrofungos: desde os "corais", "taças", "prateleiras", fungos gelatinosos (aquele Tremella mesenterica amarelo ali na foto) passando por quase todas as famílias existentes em Portugal de cogumelos clássicos de chapéu e pé, e acabando nos fungos "bola", só para citar alguns tipos (encontrámos até um Myxomyceto!). No que diz respeito à sua "culinaria-bilidade" alguns comestíveis (poucos), muitos tóxicos e alguns até mortais, como a Amanita muscaria (o vermelho na foto) ou a A. phalloides!
De assinalar também que no sábado apanhámos uma grande molha... Já estávamos de sobreaviso por causa das previsões meteorológicas, de modo que todos tínhamos algumas peças impermeáveis vestidas mas mesmo assim, acabámos o campo às 15:30 porque já começávamos a estar molhados (eu em particular diga-se...) de um modo bastante significativo.
Como é praticamente impossível eu andar no campo sem pelo menos virar uns calhaus ainda trouxe alguns aracnídeos e nem tudo foi banal já que pela primeira vez no campo encontrei Amaurobius em Portugal, já tinha encontrado A. similis em Espanha mas em Portugal nunca tinha visto. Desta feita, foi o A. occidentalis, já citado para o país e presente no Norte. Também encontrei um refúgio de Atypus affinis, uma aranha bastante "primitiva" que existe em Portugal, mas não recolhi o animal pois não valia a pena; o seu refúgio é subterrâneo, a aranha passa quase toda a sua vida dentro daquele tubo de seda coberto com restos de terra e de manta morta, saindo apenas para dispersar quando juvenil ou quando um macho adulto abandona o refúgio para ir achar uma fêmea e o método pelo qual caça as suas presas inspira uma cena de terror, já que as presas são literalmente trespassadas pelas enormes quelíceras desta aranha, de dentro para fora do tubo sedoso, e depois puxadas para baixo (para depois a abertura ser remendada a pronto pelo Atypus) para serem devoradas. A nível de aranhas interessantes, foi só. Também trouxe alguns Opiliones e penso que poderei ter capturado uma espécie que não estava confirmada para Portugal, Leiobunum rotundum, mas ainda tenho que confirmar isto quando enviar o bicho a um investigador espanhol que é especialista em Opiliones (e tenho que fazer um post a explicar o que é um Opilione, já que poderei falar neles mais vezes).
Não sabia que eras também um fã de fungos. Belas fotos e belos espécimes.
ResponderEliminarPois, por acaso sou um curioso dos macrofungos. Se escolhesse um grupo de organismos fora dos animais para estudar poderia muito bem ser algo como fungos...
ResponderEliminarQuanto às fotos, tínhamos à nossa disposição uma máquina bastante decente, do Departamento de Botânica lá da Faculdade pelo que não deve ser todos os dias que vou meter fotos daquelas aqui.
É um dos bens materiais que está na minha wishlist, uma máquina fotográfica decente.
Agora já arranjas a bons preços. Máquinas são baratas, as lentes por outro lado ...
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