Já tínhamos apalavrado há alguns tempos tirar um dia para andar pelos arredores de Coimbra e fazer geocaching juntamente com o Ludgero, a Inês e a Joana. Neste fim-de-semana prolongado ou feriado, se preferirem, surgiu a oportunidade de o fazer e, apesar de a Sandra estar um bocado indisposta, não era nada que impedisse a aventura e lá metemos provisões na mochila e seguimos em frente. Por sorte as previsões meteorológicas não eram muito más e o tempo não nos pregou partidas. Decidimos ir para a zona de Condeixa, pois ainda havia aí algumas caches no meio do campo por fazer, entre as quais estava uma que descansa escondida nas Buracas de Casmilo, e que já tínhamos debaixo de olho há algum tempo, e da qual faríamos o ponto alto do dia (mais tarde verificámos que foi de facto o ponto alto, mas não apenas por ser uma paisagem fantástica...).
Para aproveitar o dia, decidimos partir de manhã da Praça da República pelas 9:30. Toda a gente pontual, e lá fomos nós a caminho, pelo IC2.
A primeira paragem foi num simpático monte onde está a igreja da Senhora do Círculo, que, na verdade em si não é nada de mais como monumento, já que foi restaurada e modernizada de uma forma bastante típica. O monte em si, por outro lado, é um local bonito para se estar apreciando as belas vistas da Serra do Sicó de um lado e do Baixo Mondego do outro.
Bem, quanto à cache em si devo dizer que não foi tão fácil dar com ela quanto deveria ter sido já que fomos todos procurar para locais indevidos, induzidos em erro pelo GPS. Depois de nos introduzirmos aos Quercus coccifera (vulgo, carrascos) presentes na zona (com os quais viríamos a ter novas aventuras mais tarde) durante um bom bocado, lá voltámos ao ponto de partida e - voilá! - eis que a Inês dá com a cache! Afinal, estava logo ali, no último sítio onde procurámos...
De regresso ao bólide, a próxima paragem eram as Buracas de Casmilo. Ora, para lá chegar já foi uma aventura em si, já que sempre que nos deparávamos com uma bifurcação, invariavelmente tomávamos a opção errada... Depois de várias ajudas de nativos, e até problemas de engarrafamento no meio de caminhos de pedra devido a uma miscelânea de gado caprino e ovino, lá encontrámos o Vale das Buracas! Estas cavidades na rocha esculpidas pelos agentes erosivos ao longo de muitos e muitos anos originou locais que desafiam a imaginação. Como por exemplo a Joana disse: "agora entrava para ali um tipo de espada para combater um dragão" (ou qualquer coisa do género). Depois de nos maravilharmos com a grandiosidade do local e já termos experimentado o excelente eco que havia no local com vários comentários idiotas gritados em voz alta, decidimos ir à nossa busca. Como o GPS apontava para cima de uma das buracas, e porque não encontrámos à primeira vista local para escalar, decidimos ir à volta já que havia um trilho que subia o flanco da buraca. Bem, lá subir subia, mas a verdade é que não subia para onde precisávamos... Continuámos e continuámos, até não dar mais, altura em que começamos a escalar um pouco. Em cima do lapiás, coberto de mato denso e alto depressa nos apercebemos que não era este a rota de aproximação à cache, certamente. A progressão era lenta, já que tínhamos que abrir mato com os braços e pernas, e ter cuidado onde meter os pés pois fendas é o que não falta em formações de lapiás, e depois de continuarmos um bom bocado (de tempo, não de espaço) naquele matagal e de nos "regozijarmos" de ter aumentado a dificuldade de uma cache 3,5 para 4,5 ou mesmo 5 (numa escala de 1 a 5), decidimos voltar para trás, já que a progressão tornava-se impossível a certo ponto. Para agravar a experiência, o Ludgero bateu com o joelho numa pedra, quando já estávamos no regresso, pelo que tivemos que redobrar a calma e cuidado com que progredíamos no mato e no lapiás. De volta à entrada da buraca, a Sandra imediatamente achou umas escadinhas por onde deveríamos ter trepado inicialmente... Isto de nos metermos pelo caminho errado já aconteceu tanta vez que já começo a deixar de ficar supreendido... Arranhões, espinhos e estafa para nada, quer dizer, para mais tarde recordar, em amena cavaqueira com terceiros, porventura. Ainda antes de subir toda a gente, facilmente a Sandra encontrou a cache, logámos e descemos para almoçar, para repôr as forças, já que depois desta, havia mazelas a debelar por entre as hostes.
Almoço concluído e estávamos prontos para continuar. O próximo passo seria a cache do Moínho do Outeiro, que estava muito perto das Buracas de Casmilo. Depois de passarmos pela povoação de Serra de Janeanes e de, pela 1ª vez, não nos termos enganado no caminho, lá encontrámos o moínho. Já conhecíamos este moínho da cache Cabeça de Vento em Penacova, (que nos leva ao Museu do Moínho) o qual tem rodinhas. Infelizmente, o seu estado de conservação não aparentava ser o melhor. Quanto à cache, foi fácil dar com ela, praticamente todos ao mesmo tempo. Neste monte também pudemos disfrutar de boas vistas, dada a localização relativamente elevada. Findada a última cache em ambiente mais silvestre e rural que tínhamos planeada para hoje, começámos a pensar em dirigirmo-nos à civilização, pois as outras duas caches que faltavam levavam-nos para mais perto de Condeixa, nomeadamente às Ruínas de Conímbriga e aos restos do castelo de Alcabideque. E, para dizer a verdade, depois da sova que levámos nas Buracas com o nosso corta-mato, não havia tempo para muito mais que estas duas caches de dificuldade baixa. Chegados a Conímbriga, não foi difícil até dar com a cache embora tivéssemos que recorrer à nossa helpdesk habitual (a Diana) para retirarmos um dado necessário para fazer no futuro uma cache mistério. Ainda ponderámos visitar as ruínas, mas tal não se proporcionou já que o tempo com luz disponível já não era muito e estar a visitar um local destes com pressa não é o ideal. Só haveria luminosidade para irmos até Alcabideque tratar da cache de lá. Não foi nada difícil dar com ela, a dificuldade foi deitar-lhe a mão sem que fôssemos notados pelos nativos, dado o local bastante amplo e central da pacata aldeia/vila(?). Felizmente, tínhamos patos e gansos para alimentar, facto que nos tornava bastante inconspícuos. Depois desta, o cansaço acumulado já se fazia notar e como não tínhamos mais tempo nem trabalho-de-casa preparado para mais, rumámos até Coimbra, onde chegámos já ao escurecer. Lanchámos na gelataria (chocolate quente e torrada, que mimo) com roupas sujas com terra e detritos silvestres variados, mas ninguém deve ter ficado muito chocado já que não nos atiraram com coisas. No final, passámos uma tarde bem recheada de aventura e episódios, desde a busca sem norte na Senhora do Círculo, passando pelas voltas nos caminhos de Casmilo e, claro, acabando na nossa incursão radical nas Buracas...
As fotos aqui postadas são versões redimensionadas dos originais, tirados pelo Ludgero ou pela Joana.