domingo, 3 de janeiro de 2010

Fim de ano @ Gerês

Este ano tive a oportunidade de passar o ano de um modo bastante aventureiro.
Fui convocado mais a Sandra pelo aracno-chefe Pedro Cardoso para ir com ele, a Clara e mais 2 amigos (Álvaro e Guida) até ao Gerês, caminhar pela montanha até cair para o lado. As previsões meteorológicas não eram as melhores mas foi com uma mentalidade persistente que nos aprontámos para esta aventura.
Saímos de Coimbra todos juntos no dia 30 pela tarde e ficámos instalados numa Pousada do lado espanhol em Lobios, já que estava tudo cheio do lado português quando tentámos efectuar a reserva.

Dia I (31 de Dezembro):
O plano de festividades inicial levar-nos-ía até à Serra da Peneda, começando a partir do Santuário de Nossa Senhora da Peneda.
Pelo caminho, ainda passámos pela localidade de Castro Laboreiro, berço da conhecida raça de cão com o mesmo nome e, pudemos encontrar alguns imponentes exemplares caninos pela borda da estrada.
Começámos aí pelas 10:30 da manhã (?) debaixo de chuva grossa e preparámo-nos o melhor possível. No meu caso, e apesar de ter umas sapatilhas/botas semi-impermeáveis, eram as extremidades as únicas que sofriam, mas assim que começámos a subir encosta acima o frio desaparece e a caminhada começa. Em muitos momentos o trilho mostra vontade de ser regato e os pés têm de ser colocados com cuidado para não escorregar (grande invenção essa dos batons de caminhada!). Depois de chegarmos a mais ou menos 1000 metros de altitude eis que a chuva se condensa e se transforma em neve. Nunca tinha visto nevar, apesar de já ter estado em locais nevados... Debaixo de um pequeno nevão loguei a cache Stairway to Heaven e prosseguimos em direcção a São Bento do Cando. Depois de muito calcorrearmos chegámos a um ribeiro que corria forte no vale que nos separava da povoação e como a travessia se afigurava demasiado perigosa e arriscada, decidimos voltar para trás. Grande seca, voltar para trás aqueles quilómetros todos... (?) Não, puro engano, ao subir a encosta do vale até uma razoável altitude, reparámos que a neve cobria agora quase todo o piso que anteriormente pisávamos, fosse ele castanho, verde ou cinzento. E durante a maior parte do regresso a grande altitude, o vento era pouco e a neve caía calma e vagarosamente pelo que a beleza da paisagem era indescrítivel e apreciada por todos como se tivéssemos sido presenteados pela mãe Natureza pela molha e esforço inicial. Regressámos aos carros no Santuário pelas 16 da tarde, ainda sem almoçar nada que fosse digno da designação de almoço, e apesar da fome existir em todos, não nos fazia percorrer os últimos metros em jeito de sacríficio, tal era a brutalidade dos cenários com que nos deparávamos.
Caminhada total: mais ou menos 12 km e subida até 1050 metros mais ou menos.
Dia II (1 de Janeiro):
Devido ao imperfeito estado de saúde do Pedro (o jantar caiu-lhe mal, a carne não devia estar fresca), no 1º dia do ano fizemos o percurso mais leve de todos os que tínhamos na mira. Fomos até Vilar da Veiga e fizemos o trilho das Silhas dos Ursos que ainda assim nos levaria até aos 1000 metros de altitude sensivelmente. Ora, antes de mais o que é uma silha? Era basicamente um grande calhau de granito com um topo liso onde eram colocadas as colmeias para que os ursos não lhes pudessem chegar. É claro que agora não existem ursos no Gerês, mas as silhas lá permanecem, mesmo sem as colmeias... Este percurso continha uma cache múltipla escondida na montanha, e a busca da mesma foi o que liderou a caminhada até ao seu destino.
O declive a vencer não foi tão acentuado como no dia anterior e o São Pedro esteve mais porreiraço com a malta pelo que só apanhámos uns chuviscos já na parte final da caminhada. Parámos para almoçar no ponto mais alto do percurso com uma bela vista sobre os vales. Como disse o Álvaro: "Nós somos uns privilegiados por almoçar num sítio destes." Findada a refeição, altura para prosseguir, encontrar e logar a cache, para depois decidirmos se continuávamos em frente até ao Campo do Gerês ou se voltávamos para trás até aos carros. Um pequeno calhau de granito decidiu por nós e lá fomos a descer os vales até ao Campo do Gerês. Ainda tivemos que atravessar alguns ribeiros de pedra em pedra, com todo o cuidado para ninguém cair à água, mas tinha mesmo que ser já que não havia outro caminho; num caso em que a água corria com alguma força esta travessia fez subir os níveis de adrenalina no sangue de todos, mas correu tudo bem, e no final da caminhada os meus pés estavam secos. Chegados ao Campo do Gerês, altura para recuperar forças com um cházinho de menta e uns Goodies num café local, antes de ir buscar os carros para irmos jantar num restaurante localizado na mesma povoação.Já depois do jantar, e quando já todos pensávamos no banho quente enquanto regressávamos de carro para Lobios através da Mata de Albergaria, fomos presenteados com um bónus da Mãe Natureza já que um rabo felpudo se atravessa à frente dos nossos carros. E quando todos julgávamos que já não voltaríamos a ver o dono do rabo felpudo eis que, curiosamente, uma pequena raposinha vem ao encontro do nosso carro, e depois de nos fitar durante uns segundos, se volta a dirigir para o mato. Foi um encontro que deliciou os presentes, que estavam todos a lidar com os incontáveis buracões presentes na estrada de terra batida que passa pela Mata de Albergaria. Chegados à pousada, xixi - cama.
Caminhada total: talvez mais uns 12 km

Dia III (2 de Janeiro):
Para o último dia estava guardada a caminhada mais extensa, mas nem por isso a que tinha declives mais acentuados. Do lado espanhol, fomos fazer o trilho da Mina das Sombras, que nos levaria até às r
uínas da Mina que fora usada para extrair volfrâmio para as blindagens dos variados objectos bélicos usados na 2ª Guerra Mundial. Ainda andámos às voltas até encontrarmos o estacionamento numa igreja de pedra, mas acabámos por passar por um pequeno grupo de cavalos que estavam aparentemente a vaguear pelos campos, sem dono, e comunicámos com um nativo que andava numa caçada e nos indicou o caminho certo. Depois de chegar à igreja, lá começámos a calcorrear montes em direcção à Mina das Sombras. O caminho ficava num vale que serpenteava pela montanha e que nos oferecia constantes cascatas e regatos para observar e saltitar, respectivamente. À medida que subíamos em altitude, o cansaço acumulado começava a fazer-se notar e eu e a Sandra fomos a um ritmo mais lento que os trekkers mais experientes que nos acompanhavam. Foi de facto, uma bela caminhada. No Gerês, no Inverno, tudo é água. O chão que noutras alturas está seco transforma-se em água, as cascatas cospem com raiva e a força dos rios impõe respeito. Já bastante perto da mina, voltamos à neve. A chegada à mina, porém, não foi lá muito do meu agrado, porque depois de saltar tanto regato e poças para manter os pés secos tinha que passar por um chão em forma de charco, já que não havia local onde meter os pés sem os levar à água, e pronto, tanto esforço e lá estou eu de pés molhados, novamente. Isto porque a quantidade de água que saía da mina era tanta que todo o local estava encharcado. Parámos nas ruínas para almoçar qualquer coisa e entreguei o GPS à Sandra para ela ir procurar a cache que estaria à entrada da mina, juntamente com o Pedro, já que o grau de impermeabilização deles era maior que o meu. Ainda assim, não dava para entrar na mina e a cache lá ficará, para uma outra oportunidade. Depois de ingerir alguma power-food lá começámos a rota de descida, e como parar é morrer, especialmente com patas molhadas, senti-me com energia novamente, e tal também se terá devido aos 2 triângulos de Toblerone gigantes que me foram oferecidos pelo Álvaro e pela Guida. Ainda passámos por 2 espanhóis e alguns tugas (eu não vi os tugas, estavam dentro de um edifício que estava a meio caminho e como ía à frente nem reparei que estava lá gente), mas deviam ser "meninas", já que encontrámos um jeep estacionado uns metros mais à frente. No final, chegados aos últimos metros destes 18 km, já pensávamos no que se seguiria: uns banhos no spa natural que existe na povoação de Bubaces. Então lá fomos de volta à pousada, buscar a roupa adequada, e já em Bubaces, aí nos pusemos de molho durante cerca de duas horas, para curar o desgaste físico efectuado nestes últimos 3 dias. Chegou a chover enquanto lá estivemos mas era como nada se passasse no resto do mundo...
No dia seguinte era altura de ir embora e voltar a casa. Nos últimos relances que tivemos do Gerês, as nuvens baixas que se deslocam por entre os vales e as quedas de água que se vêm regularmente foram a despedida da Natureza invernal desta montanha, que nos proporcionou 3 dias de exercício físico intenso e que, juntamente com a boa companhia fez com que esta passagem de fim de ano se tornasse um dos pontos altos de 2009 e de 2010.

Reminder: comprar luvas e calçado 100% impermeável para a próxima aventura do tipo.
Nota: batons de caminhada dão, de facto, um certo jeito... :)

1 comentário:

  1. Eu que gosto tanto do Gerês, nunca o vi com neve =| há-de ser espectacular ver tal paisagem...vocês fartaram-se de andar, eheh =p

    e vá la, em relação aos batons, tiveste sorte =D agora tens um par novinho!

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